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Gris e Neva: como a sensibilidade artística do Nomada Studio redefiniu o que esperamos de um jogo indie

  • joaovcustodio87
  • 27 de out.
  • 5 min de leitura

Gris foi lançado em 2018 como um sopro de leveza em uma indústria que, naquele momento, parecia cada vez mais barulhenta. A crítica o aclamou. O público o abraçou.


As indicações e prêmios se multiplicaram. Mas talvez o mais interessante seja notar como um estúdio estreante, com uma equipe majoritariamente sem experiência em games, conseguiu criar uma obra que ainda hoje é citada como referência estética e emocional.


Neva, novo projeto do estúdio espanhol, chega com a difícil missão de manter essa consistência e, pelas prévias, parece que vai além.


Nesta entrevista exclusiva ao blog do Vagas em Games, Adrián Cuevas, cofundador do Nomada Studio, compartilha os bastidores da criação de Gris e os caminhos que levaram à construção de Neva, revelando como a arte, a música e a simplicidade jogável se unem para criar experiências profundamente humanas.


Arte do jogo Gris, com foco na personagem principal em meio a um cenário minimalista aquarelado

A origem de Gris: quando a inexperiência vira vantagem


A primeira revelação da conversa com Adrián chama a atenção: a maioria da equipe de Gris nunca havia trabalhado com videogames antes.

"No time que desenvolveu Gris, basicamente só Roger Mendoza e eu tínhamos experiência prévia", explica. "Conrad Roset, o diretor criativo e de arte, e o Berlinist, responsável pela trilha sonora, nunca tinham feito um jogo. O mesmo valia para grande parte dos artistas, animadores e designers."

Essa falta de background tradicional não gerou insegurança?

Muito pelo contrário.


A ausência de vícios técnicos ou limitações criativas ajudou a moldar um projeto fresco, onde todos os pilares (arte, música e gameplay) foram colocados em pé de igualdade.


O resultado foi um jogo que transborda sensibilidade e que desde o início nunca tentou ser convencional.


Música como parte do processo: a força da colaboração com o Berlinist


A trilha sonora de Gris, composta pelo coletivo Berlinist, é frequentemente apontada como um dos principais responsáveis por provocar lágrimas e reflexões nos jogadores. Essa força não veio por acaso.

"Eles estavam no projeto desde o início. Foram fundamentais não só para a emoção do jogo, mas também para a criação da demo que mostramos aos publishers", explica Adrián. "Nos reuníamos com frequência para mostrar os avanços. E, como o Marco morava perto do estúdio, ele ia pessoalmente nos visitar. Isso tornava o diálogo muito mais direto."

Essa proximidade e comunicação constante garantiram que a música não fosse um complemento, mas sim uma extensão viva da narrativa e da estética visual.



Um jogo para todos: reduzindo a frustração como escolha de design


Se Gris parece "fácil demais" para certos jogadores, essa percepção não é um acidente. É uma escolha.

"Desde o começo, queríamos criar algo mais pessoal, que se afastasse dos jogos tradicionais. Não há pontuações ou vidas. Na verdade, nem é possível morrer", explica Adrián.

A equipe queria atrair também pessoas que normalmente não jogam videogames. Isso exigiu uma curva de dificuldade suave, um ritmo contemplativo e a construção de um universo no qual o jogador pudesse se perder, sem medo, sem pressa.

O foco era provocar emoções, não medir habilidades.


Gris como experiência emocional (e não só como produto)


Perguntamos a Adrián o que guiou artisticamente o time durante a produção de Gris. A resposta é direta: um desejo de expressar algo genuíno, quase íntimo.

“Com Conrad como diretor criativo, sabíamos que a arte seria central. Mas queríamos um equilíbrio. A música teria que ser igualmente poderosa. O mesmo valia para o gameplay. Tudo precisava conversar.”

Esse cuidado com a coesão, que muitos jogadores hoje chamam de "experiência emocional", nasceu da decisão de tratar todos os elementos como essenciais, não acessórios.


O resultado foi um jogo que é lembrado muito mais pelo que faz sentir do que por seus sistemas ou mecânicas.


O desafio de inovar: será que as pessoas vão entender?


Criar algo fora do comum exige não apenas coragem, mas também confiança em que o público pode (e vai) entender essa proposta.

"Sempre existem dúvidas. Será que vão entender? Será que vão se conectar? Mas desde os primeiros testes, o feedback foi incrível. Isso nos deu forças para continuar nesse caminho."

Esse é um ponto essencial para quem sonha em empreender na indústria de jogos: nem sempre o caminho mais seguro (e familiar) é o que gera mais impacto.

Gris foi um risco. E foi exatamente por isso que brilhou.


O que vem com Neva: amadurecimento e novos desafios


Neva, o novo projeto do estúdio, segue algumas premissas de Gris, mas com uma abordagem ainda mais ambiciosa. Se antes o foco estava em uma jornada solitária de luto, agora o tema parece envolver crescimento, conexão e perdas mais amplas.


Embora o jogo ainda não tenha sido lançado, o que se vê nos trailers é um salto em termos de direção de arte, ambientação e complexidade emocional.


Cena de Neva mostrando a protagonista ao lado de uma criatura mágica, em um cenário onírico

Dicas para quem está começando: o conselho do Nomada Studio


Pedimos a Adrián um conselho para desenvolvedores independentes que sonham em criar algo tão autoral quanto Gris ou Neva.


A resposta é realista, mas encorajadora.

"É importante saber o que torna o seu jogo único. Hoje, milhares de jogos são lançados todos os dias. Ser diferente é uma necessidade.""Evite escopos muito grandes. Isso permite investir mais recursos no que realmente diferencia seu projeto, seja o visual, o tema ou a proposta narrativa."

Essa é uma lição importante: o que torna um jogo inesquecível nem sempre é seu tamanho, mas sua identidade.


Gris e Neva no cenário indie global


Tanto Gris quanto Neva são exemplos de como o mercado indie pode competir com produções maiores, mesmo com equipes reduzidas. A chave, nesse caso, está em oferecer algo que os grandes estúdios nem sempre conseguem: alma.


Estúdios independentes não precisam ser menores em ambição, apenas mais cuidadosos na execução.


A trajetória do Nomada Studio prova isso. E mais: mostra que trabalhar com games pode (e deve) ser uma forma legítima de expressão artística.


Relevância no Brasil e oportunidades no mercado


Muitos desenvolvedores brasileiros se inspiraram em Gris para começar suas jornadas autorais. E com a chegada de Neva, essa inspiração deve crescer.


Por isso, entender os caminhos que estúdios como o Nomada seguiram é essencial para quem deseja:

  • Criar jogos autorais com impacto emocional

  • Trabalhar em cargos de design, narrativa ou arte em projetos sensíveis

  • Desenvolver uma identidade estética única no mercado


Se você está começando na indústria de games, ou sonha em empreender com seu próprio jogo, este é o momento de aprender com quem já conseguiu transformar uma ideia poética em realidade comercial.


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Se você também sonha em desenvolver jogos autorais como Gris e Neva, mas ainda não sabe por onde começar, o Vagas em Games pode te ajudar.


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